No ano de 1996, quando ocorreu aquela explosão num shopping em Osasco (ler artigo), uma tragédia da qual resultaram 42 mortes (11 delas de crianças que frequentavam uma escola vizinha e costumavam cortar caminho pelo local) e um saldo de 380 feridos, li em algum jornal uma frase que me marcou: “o Brasil não precisa de terrorismo, ele fabrica suas próprias tragédias”.
Era uma grande verdade. Havia suspeita de que a explosão ocorrida no shopping havia sido um atentado, mas logo descobriu-se que resultara de um problema na tubulação de gás. Pelo menos 10 dias antes já se tinha notícia, por reclamações de funcionários, de um forte cheiro de gás no local, mas nada foi feito.
A maioria das vítimas fatais daquela tragédia eram jovens e crianças, muitos aproveitando o final da manhã para comprar o presente para os namorados (era dia 11 de junho) e almoçar por lá. Nunca ninguém foi punido penalmente, o shopping diz ter indenizado as famílias e continua funcionando até hoje. Não se tem notícias de que tenha ocorrido novos acidentes naquele estabelecimento. E principalmente, não se tem notícia de que alguma das vítimas tenha voltado a viver.
Sim, porque “ao fim e ao cabo”, mesmo que as responsabilidades sejam corretamente apuradas, os causadores sejam de fato penalizados e os familiares devidamente indenizados, nada trará as vítimas de volta a vida. O “status quo ante” nunca será restabelecido.
E nós? Bom, vamos assistir as escolas de samba, a renúncia do Papa e as notícias subsequentes. E, até que se surja uma nova tragédia, para usarmos a antiga de comparativo, vamos esquecer tudo.
Horrível, mas real.
O que aconteceu em Santa Maria não foi uma fatalidade. Sabemos. O “Fantástico” no mesmo dia publicou uma matéria com todos os detalhes e as possíveis causas. A Rede Globo televisionou exaustivamente o acontecimento. Cada detalhe nos é conhecido.
“As autoridades já estão tomando as devidas providências” é uma frase que não consola e nada diz. Não especifica quais autoridades (aliás elas ainda devem estar brigando para colocar uma a culpa na outra) e, menos ainda, quais são essas providências e quando serão tomadas.
Mas pode ser que eu esteja enganada e já exista uma agenda de supervisão e adequação de todas as casas noturnas do país – que já teriam sido devidamente mapeadas pelo Ministério responsável, num esforço conjunto entre a Presidente, os Estados e os Municípios – e, ainda, que este seria apenas o início de um programa de fiscalização intenso de lugares públicos e de obras no Brasil.
Ficaria muito feliz de estar enganada, pois odeio ser pessimista e neste momento estou completamente descrente.
Mas, por outro lado, esta desconfiança é boa porque agora nunca mais vou entrar em algum lugar e deixar de prestar atenção na segurança. Vou encher o saco. Vou denunciar. E – principalmente – vou estar de olho em quem votei.
Não vou mudar o mundo. Mas se eu não fizer nada, vou ficar péssima. E se todo mundo resolver incomodar, será ótimo!
Viver num país como o nosso, com tantas perspectivas de crescimento, não pode ser um terror e isto depende só da gente.

Dizem que os latinos decidiram as eleições dos EUA, e nós?
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